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Levante-se já da cadeira e ganhe anos de vida


Até mesmo para quem faz ginástica, permanecer sentado por períodos prolongados aumenta demais o risco de doenças cardíacas e câncer. É o que podemos chamar de síndrome da preguiça — e ela não é moleza

Quem faz ginástica e sua a camisa pelo menos três vezes por semana na certa respira aliviado, com a sensação de ter escapado do rótulo de sedentário. Mas agora vem um outro lado da história, mostrando que essa pode ser uma conclusão precipitada. Porque, segundo pesquisadores do American Cancer Society, não basta alcançar essa, digamos, cota semanal de atividade física se, no restante do tempo, a pessoa passa boas horas sentada — seja na frente do computador, empacado no trânsito, seja curtindo uma televisão.

Eles acompanharam nada menos do que 120 mil indivíduos pelo longo período de 14 anos. Ficaram de olho em sua rotina, de acordo com questionários que os participantes preenchiam regularmente. E fizeram observações de cair o queixo: as mulheres que gastam pelo menos seis horas por dia grudadas na cadeira apresentam um risco 37% maior de morrer por uma doença quando comparadas àquelas que não ultrapassam três horas sentadas. Já os homens que vivem sentados têm um risco apenas 17% maior de sofrer de um problema fatal — vai saber o porquê!

“De fato, não adianta malhar pra valer durante uma hora e dedicar o restante do dia a dormir ou relaxar na poltrona, deixando os músculos inativos e o metabolismo lento”, justifica o fisiologista Paulo Zogaib, da Universidade Federal de São Paulo, para quem o resultado não é assim tão espantoso. “Enquanto estamos sentados, economizamos energia, o que favorece a obesidade, com todos os prejuízos que ela traz ao organismo”, acrescenta a SAÚDE! a epidemiologista americana Alpa Patel, que liderou a investigação.

Outro estudo — este australiano, assinado por cientistas do Baker IDI Heart and Diabetes Institute, corrobora com essa tese. Eles monitoraram 8.800 pessoas e descobriram o seguinte: quem assiste a TV por mais de quatro horas diárias é 80% mais propenso a morrer do coração. “A falta de exercício muscular afeta o funcionamento de uma série de enzimas e hormônios responsáveis por metabolizar açúcar e gordura”, esclarece Zogaib. “A consequência se refl ete no aumento de colesterol, de triglicérides e das taxas de glicose, que se acumulam nos vasos, aumentando as chances de obstruí-los”, esclarece Zogaib.

O médico do esporte Roberto Carlos Burini, da Universidade Estadual de São Paulo, a Unesp, em Botucatu, no interior paulista, complementa. “E, muito tempo sentadas, as pessoas não consomem tantas calorias. O excesso de energia fica, então, depositado no tecido adiposo. E ele produz substâncias inflamatórias, como as citocinas, que afetam as artérias.” Um último argumento para botar as pernas para trabalhar: um artigo publicado pelo Instituto Karolinska, na Suécia, sugere uma associação entre a inércia do dia a dia e o câncer. Ora, se não há como escapar do trabalho ou do trânsito, fica o primeiro conselho para o tempo livre: abandonar o controle remoto e sair para dar um passeio a pé.

O elo entre a inatividade e a formação de tumores se estabelece por causa da obesidade. “Quando um indivíduo se estira no sofá por longos períodos, sua estrutura corporal sofre um remodelamento”, explica Roberto Burini, da Unesp. “Ele perde massa muscular — tecido que, por natureza, queima muitas calorias — e infla o tecido adiposo, cujo gasto energético é reduzido”, afirma.

O estoque gorduroso leva ao desequilíbrio de hormônios femininos, como o estrogênio, e masculinos, os androgênios. “E alguns tipos de câncer, como o de mama e o de próstata, estariam relacionados a essa disfunção”, explica o oncologista Marcello Fanelli, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Além disso, a gordura atrapalha a tarefa da insulina de botar o açúcar para dentro das células. Daí que o pâncreas precisa fabricá-la em maior quantidade. “O excesso desse hormônio também seria um fator de crescimento tumoral”, conclui Fanelli.

No caso do sistema cardiovascular, os efeitos da imobilidade são mais diretos. Ao iniciarmos um exercício, o organismo se prepara para utilizar seu combustível. Uma série de substâncias entra em ação. “É o caso da enzima lipase, que atua na quebra de gordura, dos hormônios glucagon e cortisol, envolvidos no aproveitamento de glicose, e do óxido nítrico, que age na parede dos vasos, dilatando-os e derrubando a pressão”, lista Paulo Zogaib. Portanto, quando você se rende à inércia, nada disso funciona como deveria. Daí que a pressão sobe, os níveis de glicose vão às alturas, a gordura vai parar nas artérias...

“Para agravar a situação, a falta de movimento das pernas torna o sangue mais viscoso e aumenta a probabilidade de formação de coágulos ali”, descreve o cardiologista Ricardo Pavanello, do Hospital do Coração, em São Paulo. “A consequência pode ser uma trombose ou um quadro grave chamado embolia pulmonar, que se caracteriza pela obstrução da artéria do pulmão”, alerta. Além de reservar o horário para a malhação — no mínimo, aquelas sagradas três vezes por semana —, no restante do tempo concentre- se em ativar o seu metabolismo de hora em hora, com disciplina. Como? Levante-se e caminhe no corredor, faça um alongamento dos braços e das pernas, troque o elevador pela escada e, se houver possibilidade, participe de ginásticas laborais oferecidas por muitas empresas hoje em dia. Depois de enfrentar um tedioso engarrafamento, pare o carro mais longe e caminhe até seu destino — é outra ideia. “Se você conseguir aumentar apenas 40 calorias por hora na queima de energia, serão cerca de 640 extras perdidas ao fi nal do dia”, garante Zogaib. O esforço é irrisório e o benefício, imenso!

O MAL DO SOFÁ

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1. DIABETE
Com a falta de exercício, o corpo não dá conta de converter todo o açúcar consumido em energia. Com o tempo, o excedente começa a se depositar nos vasos sanguíneos, danificando-os.

2. TRIGLICÉRIDES
É a forma como o corpo armazena gordura. Quando suas taxas estão altas, é sinal de que essas partículas estão atrapalhando a atuação de outras substâncias benéficas e desregulando o corpo inteiro.

3. COLESTEROL
Quando a versão maligna dessa molécula, a LDL, ganha espaço, é problema na certa. Ela contribui para a formação de placas.


4. OBESIDADE
Além de destrambelhar todo o metabolismo, impedindo a ação de diversas substâncias benfeitoras, o excesso de gordura produz, por si só, substâncias inflamatórias, que também causam danos às artérias.

SEM CONTAR A DOR...

Desabar na cadeira por horas a fio também causa alterações ortopédicas que não representam risco de morte, mas são extremamente limitantes. “A posição favorece a compressão da coluna, especialmente da lombar e da cervical, induzindo a formação de hérnias e infl amações”, alerta o ortopedista Ricardo Galotti, do Sport Club Corinthians Paulista. As consequências geralmente são dor intensa e meses de tratamento. Por isso, é importante se policiar, evitando uma postura arqueada, e apoiando bem as costas ao ficar sentado. Os cotovelos também não escapam, principalmente os de quem trabalha no computador. “Prefira cadeiras com apoio de braço”, recomenda Galotti. O médico ainda sugere que você descruze as pernas e utilize um apoio para os pés, capaz de proporcionar uma flexão dos joelhos, aliviando-os.

UM DRIBLE NA PREGUIÇA

Se o exercício não anula completamente os malefícios de permanecer sentado, pelo menos os atenua significativamente. De acordo com o trabalho conduzido na American Cancer Society, quem vive na cadeira e ainda por cima não costuma malhar tem um salto ainda maior no perigo de males fatais: de 37 para 94% nas mulheres e de 17 para 48% nos homens. O recado é claro: mexer o corpo o máximo possível. “O segredo é aumentar a quantidade de movimentos durante a rotina, para manter o metabolismo ativo, e caprichar no momento reservado para o treino”, sugere Paulo Zogaib.

 

Fonte: Revista Saúde




 
   
     
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